sábado, 20 de dezembro de 2014

Basquete: vale a pena investir na TV aberta?



Falamos diversas vezes da importância da transmissão do basquete na TV aberta, principalmente na Rede Globo, afinal de contas é a emissora de televisão mais assistida, com média de 13 pontos (um ponto vale por volta de 62 mil TVs ligadas). Mas com o crescimento da televisão por assinatura e de seus canais segmentados, será mesmo que fazer de tudo para ter jogos nos canais abertos é mesmo a saída?

Numa conversa com o comentarista esportivo Álvaro José, ele disse algo muito importante: a segmentação da TV é algo mundial e que deve fazer muita coisa migrar para os canais por assinatura. “Nos EUA, a TNT já teve pouca audiência, hoje tem um alcance de 200 milhões de pessoas (2/3 da população), quase uma TV aberta”, disse. A conversa completa publicarei em breve.

A TV como conhecemos precisa e vai mudar mudar porque perde audiência a cada dia para a canais por assinatura, internet, serviços on demand como Netflix, videogames e os canais pequenos.

Inclusive a internet é de grande potencial, já que o League Pass das ligas americanas fazem muito sucesso e o Brasil já é o quinto consumidor do serviço da NBA por internet. As possibilidades da internet já são exploradas pela LNB, já que nesta edição do NBB vemos ao menos dois jogos por semana no site da liga. É pouco, mas é um começo. 

Em compensação a queda dos canais abertos, a TV por assinatura cresce a cada ano, atingindo já as 19 milhões de assinaturas (estima-se 23 milhões, sendo 4 milhões de sinais piratas), muitas com preços promocionais, pontos adicionais em HD, combos com internet e tudo mais. Aliás, o serviço de TV é um dos únicos no país com liberdade de escolha entre as operadoras, por mais que os canais basicamente sempre sejam os mesmos.

Só para se ter uma ideia, se somarmos os canais pequenos e a TV por assinatura (denominados OCN), já temos o segundo canal mais assistido, à frente de Record e SBT que lutam pelo vice no ranking de audiência com média de 5 pontos. E durante o horário eleitoral, por exemplo, os OCNs chegaram a 23 pontos em São Paulo e apenas para lembrar, a média da Globo, como colocado no primeiro parágrafo é de 13, mas em 2006 era quase o dobro. 

“Se temos 19 milhões de assinatura, multiplicamos pela metodologia do Ibope (3,2), temos mais de 60 milhões de pessoas que podemos alcançar hoje”, explicou Álvaro José. Já temos quase 1/3 da população brasileira com acesso aos canais pagos, mas já 40% no sudeste brasileiro.

Nisso, os segmentos de TV por assinatura e internet banda larga seguem descendo no Brasil. Segundo a ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura), 2014 já registrou 2 milhões de novos assinantes de TV e mais 1,1 milhão de novos contratos de banda larga.


Números nem sempre dizem tudo


Crédito: Arthur Marega Filho
Claro que 23 pontos durante o horário eleitoral, divididos em uma centena de canais, não representa muito. Mas a TV paga já molda muita coisa nos canais abertos, como a programação infantil. Dos dez canais mais vistos, quatro eram infantis, explicando porque quase não vemos mais desenhos nos canais abertos.

Um dos canais é esportivo, exatamente o Sportv, que deve em breve passar a transmitir, além do NBB, também a NBA junto de Space, ESPN e Sports+.

Mas para lembrar os números do NBB na Rede Globo: a final do NBB 5 registrou 5,4 pontos (mais ou menos 334 mil TVs), do NBB 6 registrou 4,8 (mais ou menos 297 mil TVs), ambos disputados em um sábado, às 10h da manhã. Nos dois casos houve disputa quase igual com o Esporte Fantástico da Record e com o Sábado Animado do SBT.

Não são índices ruins para a atualidade da TV aberta, mas também não garanto que ceder duas horas na manhã de sábado farão uma grande alavanca para o basquete nacional. Isso sem falar do basquete feminino, de tantos jogos na TV Bandeirantes nos anos 90, outros tempos...

Mesmo que só tenhamos 1/3 do Brasil com TV por assinatura e com a concorrência do futebol na TV aberta (basta lembrar que basicamente F-1, Indy e UFC apenas quebram isso e o vôlei esporadicamente), a TV por assinatura realmente pode ser a saída.   

Uma das ideias aproveitar o potencial da TV por assinatura é a fidelização do espectador com o NBB. Os horários dos jogos variaram muito nessas sete edições do campeonato, já foram domingo de manhã, sexta-feira, terça-feira, quinta-feira à noite, sábado no horário do almoço e até às 22h.

Para essa temporada, foram extintos os jogos de fim de semana para que o canal Sportv transmita dois por semana, um na terça-feira e outro na sexta-feira, ambos mais ou menos no mesmo horário, entre 19h e 20h, criando ali um horário fixo para o NBB.


Na NBA, por exemplo, os horários de ESPN e Space são fixos, variando apenas se temos ou não horário de verão. Aliás, o Space andou abocanhando a liderança de segmento de homens entre 24 e 49 anos na TV paga e sabemos que agora as duas ligas, NBA e LNB são parceiras.

Talvez não estejamos entendendo o período que a TV aberta passa, sua transformação por todos aqueles motivos que já citei, mas o crescimento da TV por assinatura é algo que não tem mais volta e também aposto nela. 

O próprio futebol tem perdido público nos canais abertos com audiências cada vez menores, também resultado da perda geral de público das emissoras abertas.

De fato, com o crescimento da TV por assinatura e também dos canais esportivos (já são 12) e a maior segmentação de programação deve dar um novo panorama para a transmissão esportiva no país. 

E como nos Estados Unidos, logo poderemos ter emissoras fechadas pagando caro por direitos televisivos que não sejam de futebol, local em que outros esportes até conseguem espaço.

Para encerrar deixo uma pergunta: é melhor ter muita atenção de um canal pago com bom alcance e investimento em algo que cresce, ou ser exibido uma vez ou outra na TV aberta, só por exibir? Não devemos ignorar ou desdenhar do poder da TV aberta e de seu alcance, mas os tempos estão mudando. 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Aldo Rebelo pode continuar no Ministério do Esporte em 2015

Crédito: Divulgação

O Secretário de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser, deixou em aberto sua continuidade no governo. Segundo ele, a decisão dos comandantes da pasta para o próximo governo, que começa a partir de janeiro de 2015, está nas mãos da presidente reeleita Dilma Rousseff, e que o atual ministro, o ex-deputado Aldo Rebelo (PCdoB) pode até seguir no cargo.

“Nós estamos aguardando a posição da presidente (Dilma) e depende tudo da seleção dela se o ministro segue ou não”, disse.

Rebelo anunciou que deixaria o cargo e que sua missão estava cumprida no último mês de outubro durante entrevista à TV Estadão, mas a decisão no fim do processo é da presidente Dilma.

Em entrevista concedida logo após o evento de lançamento da parceria entre NBA e Liga Nacional de Basquete na última quinta-feira (11), Leyser também afirmou que o basquete (CBB também) seguirá sendo parceiro do ministério mesmo que o comando da pasta seja trocado.

“Hoje não há nenhum problema de descontinuidade em diversos níveis do governo. Temos uma democracia amadurecida. Então são programas longos, contratos já assinados e eu não vejo problemas mesmo que mude o comando do ministério”, salientou o secretário.

Ele também comentou sobre os atrasos no repasse de verba à LNB para a realização de mais uma Liga de Desenvolvimento do Basquete, que teve início em outubro. Segundo ele, a ideia é fazer um longo contrato para que não haja atraso e “houve esse ano uma alteração de legislação, com novas exigências, e isso também acabou atrasando o cronograma das assinaturas dos convênios e liberação do recurso. Isso não deve acontecer novamente”.

Representando Rebelo no evento de apresentação da parceria NBA/LNB, ele também fez questão de destacar o crescimento do NBB. “É fantástico o nível de amadurecimento e a rapidez com que isso aconteceu no basquete brasileiro. Em poucos anos conseguimos reestruturar o campeonato brasileiro, repatriar atletas e formar uma nova geração. E acho que isso chamou a atenção da NBA e abre uma perspectiva fantástica”, finalizou.


Mesmo já tendo anunciado nomes de futuros ministros, Dilma ainda não confirmou um nome para o esporte. O ministério está em poder do PCdoB desde o início do governo Lula, com Orlando Silva e logo depois com Aldo Rebelo. 

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O Tempo e as Lendas

A grande notícia esportiva desse final de ano, sem dúvidas, é esta: “Kobe Bryant supera Michael Jordan em número de pontos marcados ao longo da carreira”. Mas o que exatamente isso significa?


Pode não parecer nada: Bryant não bateu nenhum recorde da NBA: ele apenas assumiu a terceira posição dentre os principais pontuadores de todos os tempos. Para que ele chegue ao recorde – do lendário Kareem Abdul-Jabbar –, faltam ainda 6 mil pontos.

Além de não se tratar exatamente de uma marca histórica (afinal, outros dois jogadores já haviam atingido essa pontuação antes), outro aspecto que faz essa conquista de Bryant parecer menor é o fato de tais números terem sido atingidos em contextos completamente diferentes.

E aqui não se estabelece quem teve mais dificuldades: Jordan conquistou muitos pontos em um período em que a Liga passava pela chamada expansão, quando muitos novos times passaram a figurar no campeonato – algo como a promoção de divisões, no futebol – e teve 3 temporadas nas quais a linha de 3 pontos foi diminuída: em 1994-95, 95-96 e 96-97 a linha de três pontos passou de 7,24 metros para 6,71 metros.

Apenas para que se entenda: 6,75 é a medida da WNBA.

Coincidência ou não, foi nesses anos em que Michael Jordan teve seus maiores índices de acerto em toda sua carreira. E na temporada 1997-98, quando as medidas originais foram retomadas, MJ teve uma queda abrupta: chutou em 37,4% 96-97 e chutaria 23,8% em 97-98.

Por outro lado, Bryant disputou muito mais jogos e algumas temporadas a mais que Jordan para chegar à mesma pontuação. Kobe chegou à liga muito mais jovem (estreou aos 18, Jordan aos 21), e Além disso, são épocas bastante distintas, os companheiros de equipe são muito diferentes e também incomparáveis são os adversários que eles tiveram de bater.

Jordan teve duas aposentadorias (uma em 1993, outra em 1998) e ficou meses afastado por conta de um pé quebrado, em 1986. Kobe teve sua primeira grande lesão na carreira somente em 2013.

Mesmo pensando em todas essas pequenas observações, é uma façanha que, sim, precisa ser celebrada, afinal, Bryant está ultrapassando a marca de um homem que foi seu ídolo a vida toda e que, na opinião de muitos, foi o melhor da história desse esporte.

Recentemente, tanto Fernando Alonso quanto Lewis Hamilton, ambos bicampeões mundiais de Fórmula 1, disseram ansiar pelo terceiro título na categoria porque, antes de tudo, “essa foi a marca atingida por Ayrton Senna”. 

E quem não se lembra da reação de Michael Schumacher ao igualar o número de vitórias de Senna na Fórmula 1?


Bryant, ao comentar o feito, deu o tom de sua emoção: “Eu estaria mentindo se dissesse que não significa nada” (Leia aqui a carta que ele escreveu). A ovação da torcida – Kobe estava na terra do adversário! – e os abraços e aplausos de todos os jogadores e comissão técnica de ambas as equipes dão ideia do significado da ocasião (algo semelhante havia acontecido, 11 anos atrás, quando Michael Jordan superou WIlt Chamberlain pela mesma terceira posição que Kobe lhe tomou). 

Muito mais que a marca em si, porém, esse é só mais um capítulo na interminável comparação entre Jordan e Bryant.
Se buscássemos entender o significado do “duelo” Jordan vs. Kobe em outros universos, seria mais ou menos como dizer que eles são Pelé e Maradona no futebol, ou Senna e Schumacher na Fórmula 1: atletas de épocas distintas mas que, de alguma forma, tiveram trajetórias bastante próximas e polarizaram fãs ao redor do planeta.

Ajudou, em todos os casos, a progressiva ação da mídia: Pelé, Senna e Jordan atuaram períodos com grande influência dos meios de comunicação de massa, mas num tempo em que a ação destes era mais limitada e, de certa forma, monopolizada. Maradona já surge numa época diferente (a mesma de Jordan e Senna, mas década e meia “mais jovem” que a de Pelé), enquanto que Schumacher e Bryant pegariam toda a transição e modelação do fenômeno internet.

Assim, há um embate: aqueles que acompanharam Pelé-Senna-Jordan tinham muito menor acesso ao universo que os cercava; nesse sentido, determinadas “verdades” tornam-se mais difíceis de serem contestadas. Já Kobe, Schumacher e Maradona atuaram em períodos onde foram muito mais vigiados, digamos.

Dessa forma, até mesmo os grandes feitos obtidos por cada um deles passaram a ser relativizados e vistos com um ceticismo irônico. Michael Jordan, em toda sua carreira, conseguiu como máxima pontuação em uma partida os 69 pontos contra o Cleveland Cavaliers, em 1990. 16 anos depois, diante do Toronto Raptors, Kobe Bryant atingiria absurdos 81 – a segunda maior em quase 70 anos de NBA.


Uma das marcas registradas de Michael Jordan, e parte daquilo que certamente povoa o imaginário de quem vê nele um jogador insuperável, foi sua incrível capacidade de marcar as cestas finais nas partidas, concedendo a vitória a seu time. Kobe teve o mesmo tipo de qualidade: inclusive, já marcou mais “game-winners” que Michael.

Kobe teve Shaq? Jordan teve Pippen – um grande jogador que, por sinal, é muito desvalorizado. Kobe e Jordan tiveram Phil Jackson como líderes. No fim, o que os diferencia é mesmo o número de títulos: Jordan 6, Kobe 5.

Finalizo com uma frase de ninguém menos que Magic Johnson: “Assim como nunca mais veremos um jogador como Michael Jordan, nunca mais veremos outro como Kobe Bryant”.


Respeito às duas lendas do esporte. E gratidão por ter visto a carreira destes dois monstros.

Marcel Pilatti

www.hermanosebrazucas.blogspot.com.br

sábado, 13 de dezembro de 2014

Liga Nacional de Basquete e NBA fazem história

Divulgação/LNB

11 de dezembro de 2014. Guardem bem essa data como especial, não só para o basquete brasileiro, mas para o esporte brasileiro como um todo. Pela primeira vez, uma liga brasileira recebe o aporte de uma liga profissional norte-americana, é a Liga Nacional de Basquete de mãos dadas com a NBA.

O acordo foi selado em evento realizado no Esporte Clube Pinheiros, três meses após ter sido noticiado pela primeira vez pelo jornalista Fábio Balassiano

Quinto maior mercado do League Pass e o que mais cresce nas redes sociais da NBA, o Brasil chamou tanto a atenção da maior liga de basquete do mundo, que as partes formularam um acordo que sem dúvida vai alavancar a modalidade da bola laranja no nosso país.

Mesmo sem revelar valores ou prazo do contrato, o diretor da NBA no Brasil, Arnon de Mello, disse que a liga norte americana não faz um aporte na brasileira e sim um suporte para que a Liga Nacional torne-se sustentável.

Segundo ele, a ideia é de troca de experiência nas áreas de marketing e licenciamento de produtos, além de inserir entretenimentos aos jogos e também de criar uma rede de intercâmbio de experiências, não só com a NBA, mas também com a D-League, a liga de desenvolvimento nos EUA. A reforma das arenas brasileiras também foi assunto, mas deixado para o futuro.

“O intercâmbio técnico é uma coisa natural. Levamos agora o Flamengo aos Estados Unidos para jogar três partidas. Não é uma coisa que está no papel, mas com certeza haverá oportunidades. Estava conversando com o presidente da CBB (Carlos Nunes) para podermos fazer intercâmbio de técnicos, árbitros, na parte comercial e isso, com a parceria oficial, vai fluir com mais naturalidade”, explicou. 

Outro ponto importante discutido no evento foi a dos patrocinadores do NBB. O campeonato não conta com investidores para este ano, repetindo a edição anterior. Segundo Mello, a NBA buscará apoio financeiro para a Liga Nacional e já tem algumas empresas interessadas.

João Fernando Rossi e Kouros Monadjemi fizeram questão de destacar o pioneirismo da gestão de liga no Brasil, enquanto o presidente da Liga Nacional, Cássio Roque, disse que após um ano de Copa do Mundo e eleições e com o fortalecimento do ciclo olímpico, o empresariado deve ver melhor o chamado ‘esporte amador’.

“A formação de uma parceria com uma liga, com o porte da NBA, traz visibilidade e coloca o basquete um degrau acima. E assim a gente espera que consiga atrair mais patrocinadores, empresas que acreditem no retorno”, explicou Roque.

O licenciamento de produtos e a evolução do NBB foi assunto para Jason Carrily, que destacou o crescimento da liga e espera que o campeonato nacional siga se desenvolvendo até se tornar uma das melhores ligas do mundo.


Transmissão pela TV


Crédito: John Raoux /AP
Muitas vezes criticada, a parceria da LNB com a Rede Globo foi assunto no evento. Cássio Roque destacou que sem a parceria, o NBB não existiria. De fato, realmente a parceria foi extremamente necessária e segundo as palavras de Arnon de Mello, o NBB seguirá com a Globo ao menos até o fim do atual contrato.

O acordo formular pela LNB e Globo vai até 2018. Mello considera que após o término do contrato, a liga deve sim buscar novos parceiros (nos Estados Unidos, os grupos Turner, Disney e Fox transmitem jogos e atuam no Brasil), mas antes, prevendo a expansão da NBA no Brasil, ele acredita ser mais fácil que a liga norte-americana tenha espaço em novos canais no país (hoje são Sports+, ESPN e Space) que o NBB mude de casa.

Ele também frisou que as partidas do Flamengo contra os times da NBA tiveram uma boa audiência no canal Sportv. 


Encontro de gerações

Marcaram presença no evento histórico os técnicos Cláudio Mortari e Hélio Rubens, além dos ex-jogadores Cadum, Marcel e Marquinhos, protagonistas do basquete nacional nos anos 70 e 80. Entre eles também estavam Arthur (Brasília) e Felipe Ribeiro (Pinheiros).


A palavra do ministério

Representante do Ministério do Esporte, o Secretário Nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser, comentou o momento histórico.

“É fantástico o nível de amadurecimento do basquete brasileiro. Em poucos anos conseguimos estruturar o campeonato, repatriar jogadores e já criar uma nova geração e sem dúvida isso chamou a atenção da NBA”, afirmou Leyser.


Opinião do blogueiro


Crédito: Divulgação/LNB
A parceria inédita no mundo cria uma oportunidade que a Liga Nacional tanto precisava. Após perder patrocinadores, como a Caixa e a Eletrobrás, além da Netshoes, o NBB ficou em situação complicada, viu alguns de seus times ficarem mal das pernas e outros até desistirem do campeonato.

Com a chegada da NBA, a organização, que já é muito boa, ganha outra visibilidade. A partir disso, a Liga Nacional pode receber o aporte financeiro que precisa para realmente ajudar os clubes a se estruturarem melhor, fazendo com que o nível do campeonato aumente.

Ponto importante e praticamente inexistente hoje é o licenciamento de produtos. Poucos times vendem produtos, uniformes então são raríssimos. Isso deve mudar e muito a partir de agora.

Outra aposta importante é fazer um intercâmbio técnico com a Liga de Desenvolvimento para preparar melhor nossas futuras gerações e abrir a LDB em mais categorias. Criar também o 3x3 do NBB faria com que o público ficasse mais próximo do campeonato nacional. 


Por fim, o basquete brasileiro só tende a crescer com isso, principalmente porque a parceria foi feita com a séria organização da LNB. O único ponto que penso haver certo cuidado é a adaptação da NBA com o mercado brasileiro, mas se a liga norte-americana já cresce no gosto tupiniquim, a adaptação a nossa realidade não deve ser um problema. 

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Brasil Kirin campeão: uma reflexão sobre o esporte em Sorocaba

Crédito: Facebook Futsal Brasil Kirin

Pensei e muito para escrever isso aqui e pensei também se cabe no blog, mas como abordarei o basquete e o futebol americano da cidade, não vi problema.

Nesta segunda, dia da grande final da Liga Futsal, a jornalista Rafaela Gonçalves, do Cruzeiro do Sul, publicou uma boa reportagem sobre a equipe e ganchos sobre a situação das arenas esportivas da cidade de Sorocaba.

O Brasil Kirin foi campeão na prorrogação, mostrou trabalho sério e dedicado do craque Falcão, mas não jogou NENHUMA partida na cidade, o que destaca o sucateamento das praças esportivas da cidade.

Aliás, o profissionalismo do time deve servir de exemplo aos outros, já que Falcão rompeu muitos mitos na cidade. O primeiro deles é que o grande empresário não investe no esporte. Pois temos com ele uma multinacional gigante, a Brasil Kirin, que acreditou na solidez e qualidade do projeto. Mas esse pode ser um assunto para outro dia...


Aos fatos

Vamos começar pelo Estádio Municipal Walter Ribeiro, inaugurado em 1978. Desde lá, as únicas reformas do CIC (Centro de Integração da Comunidade) foram a troca do gramado algumas vezes. E de centro de integração da comunidade o estádio não tem nada...

Ainda é possível ver cinzeiros no estádio mesmo com as leis antitabagismo, o vestiário foi reformado apenas para receber os treinos de Japão e Argélia na Copa do Mundo, não há acessibilidade, banheiros adaptados, internet nas cabines de imprensa e o melhor estacionamento do estádio é do hipermercado ao lado.

Tirando, é claro, que o estádio não possui ao menos um placar. Já ouvi até o argumento de que não precisa, já que o torcedor sabe quanto está o jogo...

A situação das praças da cidade foi bem destacada por Pedrinho Souza, ex-preparador físico dos times da Minercal e também do vôlei Leite Moça na reportagem citada acima... Não existem pistas de atletismo com tamanho oficial na cidade, piscinas públicas e a última construção de praça esportiva foi... Isso, exatamente o CIC, há vergonhosos 36 anos.

O Ginásio Municipal Gualberto Moreira é da década de 1950, construído com o esforço da cidade para receber os Jogos Abertos, com as fotos emblemáticas do Padre Pieroni carregando latas de cimento fresco para acelerar sua construção (para quem não é da cidade, o ginásio fica onde se localizava a antiga Igreja de Bom Jesus, hoje na Rua Nogueira Padilha). Chegou a ser abandonado pelo poder público após a saída do vôlei Leite Moça da cidade, foi reformado, mas é frequentemente alvo de vândalos.

Por ser o único ginásio de porte na cidade, é disputado por várias equipes, Handebol do Anglo, LSB, vôlei, além de Cruzeirão, Cruzeirinho, Jogos Escolares, torneios da Lisofus, a Liga Sorocabana de Futsal e isso sem que a quadra tenha o tamanho mínimo oficial para a prática dessa modalidade (!!!!).

O último incidente foi com a quadra cedida pelo Ministério do Esporte à Liga Sorocabana de Basquete. O relógio de 24 segundos reserva também não foi instalado, rendendo multa ao time de mil reais. Responsabilidade, quer ou não, do poder público municipal, dono do ginásio.  

Já o Sorocaba Vipers Army, time de futebol americano da cidade, anda nos trazendo bastante orgulho. Foi vice-campeão do estadual e ficou em terceiro na Liga Nacional, mas não tem um campo público para treinar, depende da boa vontade dos clubes em ceder seus campos, como o Clube de Campo ou o Recreativo Campestre.

Outro que sofre com isso é a Lisoboxe, a Liga Sorocabana de Boxe, que sempre contribui em Jogos Regionais e Abertos e possui vários trabalhos de incentivo ao esporte.

No entanto, não entrarei no mérito da Arena Multiuso. A construção mal feita caiu, é mal localizada, será de difícil acesso, mas para a condição do nosso esporte, seria um grande avanço.


Alguma proposta

Bem, não defendo aqui que as prefeituras injetem dinheiro nas agremiações esportivas das cidades, pelo contrário, acho que isso não é o certo. Se você entendeu isso de minha crítica, entendeu errado. Defendo que as prefeituras possam ser parceiras dos times e fornecer o máximo de ajuda possível sem repassar dinheiro direto aos clubes e incentivem sua continuidade.

Sorocaba tinha uma ótima equipe de ciclismo capitaneada pela Padaria Real, mas como não conseguiu manter a equipe sozinha, a padaria acabou fechando o time. Agora temos mais de 100km de ciclovia, sem que haja um time desse porte fomentando (desde ensinar gente a pedalar, até dar clínicas de ciclismo de estrada) o esporte da bicicleta. Temos agora a Cervejaria Burgman tentando reaver essa chama. 

A ajuda pode vir em forma de convênio, lei de incentivo, trabalho de conservação e ampliação de praças esportivas, cobrança nula de aluguel para equipes da cidade e assim por diante. Esse incentivo já seria um bom começo. Outra ideia é criar leis de incentivo municipais para que empresas da cidade abatam seu imposto no esporte da cidade, não sei se é possível, mas é uma ideia.  

Sorocaba não constrói um centro esportivo há anos e os que temos não possuem condições para que as equipes possam treinar. Os centros são da comunidade sim, da população de Sorocaba, mas esse convênio e parceria que sugeri aumentaria o envolvimento das equipes com o público, colocando mais esporte nos bairros. Não custa tentar.

Só para lembrar, nosso esporte é multicampeão de bicicross, campeão estadual, nacional, sul-americano e mundial de basquete, estadual, nacional e intercontinental de vôlei, tem representantes no boxe nacional, no MMA, nas pistas de corrida, tradição no futebol estadual e agora também é campeão nacional de futsal.

É difícil gostar de esporte nessa cidade... 

domingo, 9 de novembro de 2014

Página de ajuda ao basquete feminino já tem mais de mil curtidas



Há duas semana recebi um e-mail de Patrícia Santana, chamando a atenção para um movimento chamado SOS Basquete Feminino Brasileiro, do qual ela é uma das fundadoras. O grupo tem o objetivo chamar a atenção para a fase terrível que a modalidade passa no país e criar ideias para melhorar o basquete das mulheres.

Enquanto o NBB caminha firme em sua sétima temporada, conquistando de volta a hegemonia nas Américas e prestes a formalizar um acordo coma NBA, a LBF, ainda dependente muito da CBB, patina, perde equipes e a cada ano sofre para fechar um campeonato que tenha dez times.

Neste ano, a equipe de Rio Claro fechou as portas e Brasília quase desistiu do nacional. Temos problemas em Americana, uma base extremamente fraca e resultados ruins nas seleções.

E com o objetivo de levantar o basquete feminino, a página "Salvem o Basquete Feminino Brasileiro" já tem mais de mil curtidas em praticamente vinte dias de fundação.

Reunindo posts da imprensa especializada e ideias populares dos fãs da modalidade, o grupo fundador do SOS Basquete Feminino Brasileiro resolveu escrever uma carta aberta ao Ministério do Esporte pedindo ajuda para salvar a modalidade que anda em péssimas condições no Brasil.


SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2014

Excelentíssimo senhor Ministro dos Esportes Aldo Rebelo

Neste ano de 2014, comemoramos os 20 anos do título mundial conquistado pela nossa seleção feminina de basquete, através da geração dos maiores ícones da história desse esporte, Paula e Hortência. Foi um feito inédito e bastante comemorado por toda a torcida brasileira e principalmente por aqueles que trabalharam e ou ainda trabalham com essa modalidade. Com esse título mundial, parecia que finalmente essa modalidade esportiva iria crescer em números de clubes, onde teria seus maiores investimentos oriundos de empresas privadas.

Porém, o que vimos foram times fechando as portas, várias atletas encerrando suas carreiras precocemente e a categoria de base largada sem menor estrutura para um crescimento técnico. Na época do título mundial, em 1994, havia apenas cinco clubes no campeonato mais importante do país, o paulista. Hoje a situação nos parece bem pior, pois o campeonato paulista ocorrido neste ano teve quatro clubes; Santo Andre, Americana, Presidente Venceslau e Rio Claro, sendo que esse último encerrou suas atividades para o basquete feminino ao término de sua participação.

O fato concreto, senhor Ministro, é que nosso basquete feminino está aos poucos desaparecendo em clubes e em praticantes, pois o pouco interesse por esse esporte é um reflexo da falta de incentivos e descaso com uma modalidade esportiva que irá participar dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016.

Nosso movimento, chamado SOS Basquete Feminino Brasileiro, vem a público pedir ao Ministério dos Esportes uma providência urgente e extremamente necessária para resgatar o basquete feminino, afinal a CBB (Confederação Brasileira de basquete), que é entidade responsável de fomentar esse esporte, não está ajudando como deveria e merece.

O descaso é visível, pois percebemos o tratamento dado ao basquete masculino no caso do mundial deste ano em que a seleção masculina não se classificou na disputada do pré-mundial, porém a CBB pagou uma alta taxa à FIBA para a seleção receber um convite e disputar o mundial. Enquanto isso o basquete feminino interno está minguando em clubes e praticantes.

Senhor Ministro, nosso basquete precisa do apoio deste Ministério para ser resgatado, pois essa situação não pode continuar. Nossa reivindicação está na formação de uma comissão composta por técnicos, jogadoras, ex-jogadoras e torcedores para discutirmos sobre novas formas de cuidar e trabalhar o basquete feminino brasileiro.

É hora de nós, que amamos o basquete feminino, nos unirmos para não deixar esse esporte que nos deu tantas alegrias no passado morrer.

Atenciosamente,

MOVIMENTO SOS BASQUETE FEMININO BRASILEIRO.

sábado, 8 de novembro de 2014

Campeão Mundial com o Flamengo, José Neto traça NBB forte

Crédito: Ricardo Ramos/LNB

Do interior de São Paulo a campeão de tudo no basquete. Desde que chegou ao Flamengo, José Neto só não venceu a Liga das Américas 2013. Já foi campeão estadual, do NBB duas vezes, da Liga das Américas 2014 e Intercontinental, levando o Flamengo a igualar o histórico time do Sírio, campeão em 1979.

Neto é de Itapetininga, mas andou por Sorocaba vendo muitos times (as cidades são separadas por apenas 70km), do Minercal de Hortência, ao time de Josuel nos anos 90. Já nesta temporada, teve a oportunidade de comandar o Flamengo em três amistosos nos Estados Unidos contra times da NBA: Phoenix Suns, Orlando Magic e Memphis Grizzlies.

Na última sexta-feira (7), já pela sétima edição do Novo Basquete Brasil, Neto esteve com o Flamengo em Sorocaba, quando a equipe do RJ venceu a Liga Sorocabana por 97 a 92, em uma partida apertada. Antes do jogo, o treinador recebeu uma placa do presidente da LSB, Rinaldo Rodrigues.

Após o jogo, este blogueiro conversou com Neto sobre as experiências desta temporada, que ainda está no começo. O resultado você lê abaixo:


- Neto, recentemente você também foi homenageado em sua cidade e agora recebe também uma placa da LSB. Como é para você esse reconhecimento regional e também dos outros times? 

Eu valorizo muito, talvez muito mais que os títulos, que talvez seja o motivo disso. Eu fico muito feliz, porque você ser um motivo de orgulho, de um valor, de um lugar que você gosta muito é uma coisa que me deixa muito feliz. É minha cidade, dali eu saí, me deu todas as oportunidades de vida e aqui na região eu aprendi a ver basquete em Sorocaba. Vi Hortência, depois o time do Atílio com o Josuel, então são coisas que me marcam. Fico feliz em poder retribuir o que eles me motivaram a ser como pessoa.


- O Flamengo, nesta temporada, já disputou três partidas nos Estados Unidos contra times da NBA e foi campeão mundial em mais dois jogos. Houve uma preparação diferente para a temporada? A NBA tem regras diferentes da FIBA, bola, linha de 3 pontos. O time se preparou bem?  

Para a NBA, na verdade, a gente não fez uma boa preparação, até porque nós tínhamos acabado de sair do mundial e já tivemos que jogar a NBA com tudo isso que você falou de diferente, as regras, bola, linha e isso no Brasil a gente não tinha. Fizemos isso lá nos Estados Unidos, foi uma coisa que teve de ser rápida, mas os jogadores são experientes, que se adaptam bem a situações e isso nos faz evoluir como time, grupo, como pessoas e nossa viagem aos EUA foi algo de muito valor.

E o mundial é uma coisa em que eu sempre sonhei, sempre me veio muito forte aquela imagem do Sírio campeão em 1979 com a torcida invadindo a quadra, muita euforia e aconteceu a mesma coisa comigo em quadra e isso não tem descrição, é um sentimento muito grande que a gente tem.


- Nós aqui no Brasil jogamos um basquete bem diferente de Europa e Estados Unidos. O que você destacaria de tudo o que você enfrentou nos amistosos diante dos três times da NBA? 

Eu sempre acreditei que para ser forte você precisa ser intenso a maior parte do tempo. E eles são fortes durante todo o tempo, e isso, o ritmo deles, foi uma coisa que me marcou demais. Tudo bem que na pré-temporada eles acabam jogando com mais de 15 atletas, tem time que estava com 19, então eles conseguem um ritmo muito forte mesmo. E todos que entram no jogo, sem importar se é o 18º jogador, eles são atletas que querem uma vaga no time, então eles confirmam esse conceito. Isso me marcou, jogar com muita intensidade ofensiva e defensiva durante a maior parte do tempo e isso eles fazem muito bem.


- Esse ano o Flamengo trouxe o Walter Herrmann, campeão olímpico em 2004. Fale um pouco sobre a contratação dele. 

É um cara super experiente, como você falou é campeão olímpico e nos dá muita coisa, acrescenta muito ao nosso time. Fico muito feliz de ter um jogador como ele no time, contribuindo muito ao coletivo.


- Desde que você chegou ao Flamengo, você só não venceu a Liga das Américas 2013, como é esse trabalho de continuidade?

Essa é uma particularidade que eu realmente não fiz nada, é o caráter do time. Se o time tem algo, realmente é caráter. Não se abate com as dificuldades, sempre trabalha por soluções para as coisas difíceis que acabam acontecendo.

No último NBB saímos nos playoffs sempre perdendo em casa e acabamos virando vencendo duas fora de casa, tanto em Bauru, quanto em Mogi. E não é fácil bater essas duas equipes fora de casa, são coisas que mostram o caráter do time. Realmente o Phil Jackson tem razão*, para ser vencedor o time precisa ter caráter e esse time tem.


- Para este NBB, o Flamengo perdeu o Shilton, mas vem com os jovens Gegê e Felício, que ajudam muito na rotação, e a contratação do Herrmann. Quais outros times você colocaria como favoritos para o campeonato e também na questão do elenco?

Se engana muito quem acha que o NBB é um campeonato de dois, três ou quatro times. É um campeonato com 16 times e todos possuem chances de ganhar. Sorocaba mostrou isso hoje, não tem grandes nomes, mas é um grande grupo, que sabe bem o propósito do que deve fazer para ganhar. Eles tentaram isso do começo ao fim, muito valor e do mérito que eles fazem e assim vai ser em todo lugar.

Temos vários times, que talvez não tenham grandes nomes, mas possuem um grupo. E isso nós também tentamos fazer no Flamengo, tentamos fazer além dos nomes - eles ajudam muito -, mas é preciso que grandes jogadores se tornem um grande grupo. Vai ser um campeonato duríssimo.


- O NBB desse ano começou no Paulistano com uma cara diferente, tivemos quadra padronizada, placas de publicidade com led, decoração no ginásio que ficou lotado. Você que está no campeonato de forma ininterrupta desde a quarta edição, vê nisso também uma evolução? E os atletas?  

Vejo a evolução muito clara, vejo todos setores evoluindo, como o dos jogadores, vemos cada vez mais atletas de alto nível. Um exemplo é nossa equipe, trouxemos agora (o Herrmann) um campeão olímpico, MVP da liga argentina. Não é fácil trazer um jogador desses. Acho que isso também mostra a evolução da competição. Mas claro que ainda devemos evoluir mais, setor administrativo, vemos essa padronização de piso, tabela, placar. Vemos as equipes tentando melhorar para que o campeonato fique cada vez mais atrativo.


- Com a parceria da LNB com a NBA, você espera ver um pouco do que viu nos EUA aqui no Brasil?  

Bom, primeiro eu espero que o contrato seja fechado e assim que aconteça, claro que espero. O exemplo da NBA é de uma liga que sabe o caminho do sucesso, talvez já estejamos no caminho, mas eles podem nos mostrar um caminho ainda melhor. Isso pode nos ensinar que o basquete não é só um jogo, é um evento.


*Nota: Phil Jackson cita, na página 111 de seu livro Onze Anéis - A Alma do Sucesso (Editora Rocco): "O técnico da UCLA, John Wooden, costumava dizer que "vencer requer talento e vencer de novo requer caráter".  

sábado, 18 de outubro de 2014

O problema do basquete feminino é a quantidade, diz Zanon

Crédito: divulgação

Na última quinta-feira (16), o técnico Luiz Augusto Zanon esteve em Sorocaba para comandar o São José em seu primeiro amistoso antes do Novo Basquete Brasil. A Águia do Vale caiu cedo no Campeonato Paulista ao ser eliminada pela Winner/Limeira, mas só agora conseguiu marcar um jogo-treino, isso por causa das mudanças no elenco e da ausência do treinador. A partida foi vencida pela Liga Sorocabana: 87 x 82.

Zanon esteve no comando da seleção feminina no Mundial da Turquia, realizado no mês passado, quando o Brasil foi eliminado logo na primeira rodada do mata-mata para a França, por 61 a 48, terminando o torneio com três derrotas e apenas uma vitória, justamente diante do Japão na primeira fase.

Enquanto o treinador estava com o mundial, o armador Manny Quezada deixou o time joseense, que recontratou Andre Laws e ainda trouxe Rafael Mineiro (ex-Paulistano e com passagens por Minas, LSB e Brasília), além do norte-americano Jimmy Baxter, que estava no Obras Sanitárias da Argentina.

Além do São José, Zanon falou bastante da disputa do Mundial e também da fase precária que o basquete feminino brasileiro vive. A entrevista você confere abaixo:


- Você poderia fazer uma análise dessa preparação do São José para o NBB?

Olha, nós tínhamos planejado uma preparação, com duas semanas de parte física e outras duas semanas de tático para começarmos os amistosos. Como tivemos problemas, conseguimos fazer só a parte física, eu cheguei e ficamos sem jogadores e hoje foi o primeiro coletivo que conseguimos fazer, já que estamos treinado com o Sub-17 só com seis jogadores. Ficamos com a indefinição do (Manny) Quezada, o outro americano também não permaneceu e mais a lesão do Caio acabaram mudando nossa preparação. Achei muito bom o ritmo do amistoso de hoje, deu para ver que o time está melhor e já vamos fazer no próximo treino a inclusão do Rafael Mineiro, do Andrew Laws e do Baxter, ganhamos em quantidade e no revezamento porque não dá para jogar todos os 40 minutos.


- E esse amistoso te agradou teticamente e tecnicamente? 

Nós nem trabalhamos com o resultado, não é desmerecendo (a vitória de Sorocaba) ou não, nós trabalhamos para ver se o que treinamos está acontecendo dentro de quadra. Falta um pouco mais de postura defensiva individual no um contra um, não é na cobertura, é  jogo de contato e estamos um pouco fora disso porque estávamos treinando com os jovens. Mas achei um lado muito bom do que planejamos de modo ofensivo e conseguimos executar bastantes coisas. Foi um ótimo treino para nosso time.


- Agora falando na seleção, o Brasil venceu apenas uma partida na primeira fase diante do Japão, teve dificuldades ofensivas com poucos pontos durantes os jogos. Como você analisa a primeira fase do mundial? 

Nós fomos com o objetivo de tentar fazer seis jogos, com seis partidas você pode chegar à final ou acabar em oitavo, fazendo assim todas as fases do campeonato. Nós enfrentamos o vice-campeão europeu, que é a República Tcheca, a agora vice-mundial que é a Espanha e depois a França, que é a campeã europeia e tivemos um jogo com o Japão. Então pegamos o melhor possível para ver a referência dessas meninas.

Com certeza, daqui a quatro anos, que é o mundial, ou os Jogos Olímpicos de 2016, a evolução será grande. Ninguém esperava num mundial com dez jogadoras novas, nove e a Damiris que tinha 17 anos no último mundial, e não entrou nenhum minuto, e só tínhamos a Adriana e a Érika que já tinham participado. Para nós, a avaliação foi positiva, mas o resultado não foi o que a gente queria em dois aspectos: o resultado dos jogos e o jeito que as meninas jogaram. Elas jogaram um pouco abaixo do que esperávamos. Mas acho que num contexto geral esse é o único caminho que o basquete feminino tem para seguir, que é fazer jogos internacionais e renovação.


- Na sua avaliação, as jogadoras da WNBA (Érika, Nádia e Damiris) ficaram também abaixo do que poderiam render? 

Isso foi um ponto que pegou. Nossas jogadoras da WNBA produziram menos que as jogadoras que vieram dos outros clubes. A (Sandrine) Gruda, da França (que joga na Rússia) teve uma atuação muito boa, a Sancho Lyttle da Espanha (que joga na Turquia), que é uma americana, fez todos os jogos muito bem.

Mas não foram elas a diferença, foi um contexto geral. Talvez se tivéssemos vencido a República Tcheca, jogaríamos com um adversário um pouco melhor, que seria o Canadá (5º colocado), mas é mais fraco que a França, e seria melhor. Saímos com quatro jogos que poderiam ser três, o objetivo nosso era fazer seis jogos, o que seria uma coisa muito boa e acho difícil culpar as jogadores. Não tem jogadora ou comissão, tem a seleção brasileira que poderia ter um rendimento mais alto.


- No cenário do basquete feminino brasileiro, como o fechamento de equipes como Brasília e Rio Claro atrapalha a seleção? 

Legal, é a primeira vez que me perguntam isso. Atrapalha demais, porque a grande diferença do basquete feminino para o masculino é o número de equipes e o nível do campeonato. Estamos defasados com a Europa, você vê que a intensidade que o feminino europeu joga é quase como o que a gente joga no masculino aqui.

As meninas fazem fundamentos do jogo com a intensidade altíssima. Com o fechamento de equipes, estamos na contramão do que queremos na seleção, que é ter mais jogadoras selecionáveis para que o campeonato também melhore e com mais equilíbrio entre as equipes. O fechamento de mais equipes é o sinal de que será cada vez mais difícil surgir grandes talentos esporádicos como Hortência e Paula no basquete feminino e nós temos que trabalhar com o número mais escasso de jogadoras.


- Por mais que tenhamos outra equipe em Recife, o Unissau/América, eu conversei aqui em Sorocaba com Antonio Carlos Vendramini e ele revelou que inclusive a equipe de Americana, atual campeã da LBF, possui dificuldades de arrumar investidores. O basquete feminino está ficando inviável? 

Olha, no Brasil ainda, para os clubes, está melhor fazer basquete feminino do que o masculino porque a LNB não custeia os clubes, que acabam pagando tudo. Já a LBF custeia algumas taxas de arbitragem e viagens são pagas pela liga, então o clube só tem a obrigação salarial. É um grande ganho para o feminino, é como no começo do NBB, mas a visibilidade do basquete feminino é bem inferior.

Até porque a Érika, a Adrianinha que parou de jogar, elas não são exploradas (midiaticamente), acho que precisávamos criar os ídolos para ajudar a aparecer mais jogadoras. Hoje eu te falo, com certeza, para um clube, fazer basquete feminino fica mais barato falando em salário e de gastos que você tem com o campeonato, porque a LBF custeia muita coisa.


- O problema do basquete feminino também é a base? 

O problema da base é gerar, criar mais pólos de basquete. Sorocaba, por exemplo, já foi um celeiro do basquete feminino e hoje não tem equipe. E o basquete feminino hoje tem poucas meninas, jovens jogando e precisávamos aumentar isso. A LBF pode ter mais equipes. É o que eu falei antes, é a escassez de jogadoras, vejo isso na seleção, não tenho um número grande, tenho um número restrito de jogadoras a convocar dentro de uma faixa etária que possa jogar na seleção. O problema do basquete feminino é a quantidade.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Em Sorocaba, Antônio Carlos Vendramini vive um dia de lembranças

Crédito: Zaramelo Júnior

"Hoje foi um dia emocionante". Essa foi uma frase marcante dita por Antônio Carlos Vendramini, que esteve nesta quarta-feira (23) em Sorocaba. O experiente técnico da equipe de Americana é um dos grandes responsáveis pela maior glória do esporte de Sorocaba, o título mundial de clubes de basquete em 1991, do Constecca/Sedox diante BCN/Piracicaba.  

À beira da quadra pelo lado sorocabano, Vendramini viu Hortência marcar 55 pontos e liderar o time sorocabano ao título. Sua importância para o esporte de Sorocaba é enorme, já que esta conquista é até hoje o maior título esportivo da cidade.

O retorno à Manchester Paulista foi para um amistoso de Americana diante da seleção USA D3, espécie de combinado da terceira divisão da NCAA. O atual campeão da LBF se prepara para o Campeonato Paulista, que deve começar em agosto, mas sem datas e calendário divulgado pela Federação Paulista.

Abaixo você confere a entrevista que fiz com o treinador:

Como está sendo feita a preparação de Americana para a temporada? 

 - Apesar de condenar o calendário porque o espaço do término da LBF para o Campeonato Paulista é muito longo, então as jogadoras ficam por muito tempo inativas, já estamos treinando em dois períodos diariamente. Ainda que não tenhamos as datas do Paulista, nós devemos estar preparados para a competição, então vamos treinando forte. Nossa equipe é composta por excelentes jogadoras, todas muito profissionais. Vamos conforme a exigência, porque sabemos que no Paulista teremos adversários duros e depois o início da LBF, que espero que tenha mais times para ser um torneio mais longo durante o ano.

Houve uma diferença na preparação se o time tivesse jogado o Sul-Americano? 

- Sim, nos teríamos um mês a mais de atividades. Infelizmente não foi possível, então antecipamos nossas férias e não foi nada daquilo que a gente planejou. Mas como temos que seguir as regras, bola para frente. Estamos trabalhando tudo de novo e temos agora a promessa de que estaremos no Sul-Americano.

A indicação de Americana é para compensar a ida do Sport ao torneio? 

- Correto. Como o representante deveria ser o campeão brasileiro, foi o Sport como vencedor da temporada anterior, mas o último campeão sul-americano tinha sido Americana. Enfim... Temos que seguir as regras e fazer mais uma vez um grande Paulista, uma grande LBF, um grande Sul-Americano e seguir lutando pelo basquete de Americana.

Vemos que Americana possui um patrocinador forte que é a Unimed, mas vimos recentemente o falecimento de dois incentivadores do basquete: seo Chico em Ourinhos e Benedito Pagliato em Sorocaba. Faltam investidores ou mecenas e incentivadores no basquete feminino? 

- Faltam sim. Primeiro é uma perda lamentável do Benedito e do seo Chico, isso foi lamentável para o basquete feminino principalmente. Em Americana nós temos um dos melhores, senão o melhor time da América Latina, e mesmo assim temos uma imensa dificuldade de arrumar parceiros. Não existe mais aquele paternalismo do Benedito ou do seo Chico. Hoje mesmo oferecendo contrapartidas, temos muitas dificuldades. Vejo que precisamos ter uma gestão não só de clubes, mas de federações e confederações mais profissionais para que tenhamos acesso aos patrocinadores.

A LBF pode ajudar nisso como o NBB está ajudando no basquete masculino? 

- Acho que a LBF está muito distante do masculino. O Novo Basquete Brasil hoje é uma realidade, a liga feminina ainda é muito dependente da CBB, mas com a entrada da Hortência no comando, eu acredito que a Liga de Basquete Feminino possa chegar em pouco tempo no nível que está o NBB.

Falando em Hortência, o que você mais se lembra de Sorocaba na época que você foi treinador do Constecca/Sedox?

- Hoje foi um dia emocionante. Eu entrei aqui no ginásio que eu não vinha há mais de uma década e me emocionei, fiquei arrepiado. Diversas coisas passaram na cabeça, a torcida, os amigos, as grandes partidas e no fim do jogo o Rinaldo Rodrigues (presidente da Liga Sorocabana de Basquete e organizador dos jogos) nos levou ao vestiário e mostrou uma reportagem da época de uma decisão de Campeonato Brasileiro e nos deixou muito emocionados. Vânia e Vanira Hernandes vieram nos ver, então foi um dia muito especial, em que pude reviver os grandes momentos do basquete de Sorocaba.

Você já declarou que a conquista mundial do Constecca/Sedox foi a mais emocionante da sua carreira. Pode contar mais sobre aquela partida? 

Foi o primeiro campeonato mundial que foi feito no Brasil e sobraram as duas melhores equipes, os times brasileiros, Constecca e BCN. Um jogo de 107 x 105 você já imagina a qualidade da partida, técnica e emocional. E ter saído vencedor foi uma conquista muito marcante que eu jamais vou esquecer na minha vida.

Sorocaba tinha uma rivalidade contra Piracicaba no basquete feminino e ambas faziam parte da base da seleção brasileira que culminou no título mundial em 1994 com o comando do Miguel Ângelo da Luz. Você se sente um pouco responsável por esse título, por ter trabalhado com essas jogadoras? 

Sem dúvida. Sempre entre as 12 jogadoras que representavam o Brasil, pelo menos metade estavam conosco em Sorocaba. Assim como me senti triste nas derrotas e responsável, nas vitórias eu também me considerei um pouco dos responsáveis.  Sou feliz desde aquela época, já atravessei quatro gerações, desde Hortência e Paula, até hoje, e sempre muito feliz. O basquete sempre me proporcionou uma vida muito alegre e feliz para mim e toda minha família.

Para terminar, você foi campeão em diversos times, por último no Paraná antes de tirar um tempo do basquete. Como foi sua volta para o basquete?

Depois de um afastamento de 6, 7 anos das quadras, porque do basquete eu nunca me afastei, recebi um convite do Ricardo Molina. Eu já tinha comentado com minha família, que meus filhos moravam em São Paulo e que deveríamos estar mais perto, e calhou o convite do Molina. Ele me convidou um dia e no dia seguinte eu já estava com a equipe e foi uma volta muito feliz e vencedora. Em dois meses de retorno, já fui campeão paulista e quatro meses depois da LBF. Então foi uma volta feliz e eu estou contente de estar com as meninas dentro da quadra.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Nacionalismo, patriotismo, sociedade, futebol e Copa do Mundo

Crédito: Getty Images
Antes de tudo, a descrição do blog permite que eu escreva algo sobre futebol, por mais que a minha intenção seja falar de basquete e futebol americano. Porém, depois de ver o massacre alemão na partida de terça-feira sobre o Brasil na Copa do Mundo me fez pensar e muito sobre várias coisas envolvendo o torneio e a postura de muitos brasileiros.

Como escrevo de vez em quando no Twitter, opinião não é uma ciência exata, portanto aqui vai a minha dividida em parcelas neste ensaio.

1 - Nacionalismo/patriotismo

O nacionalismo pode ser definido de várias maneiras, seja como sentimento ou base de um estado político. Sabemos, por exemplo, que o nacionalismo era um dos pilares do fascismo, por exaltar os feitos de um país e colocá-lo acima de outros. Em si, é o pensamento "sou melhor que você porque nasci aqui e te odeio". George Bernard Shaw disse algo neste sentido. Essa definição é o contrário do patriotismo, que é o sentimento de amor ao país e não de ódios aos outros locais.

O general francês Charles de Gaulle definiu muito bem esta diferença: "Patriotismo é quando o amor por seu próprio povo vem primeiro. Nacionalismo é quando o ódio pelos demais povos vem primeiro". Frases como "eu odeio os argentinos" não são uma mera semelhança.

Como isso se encaixa no esporte? Simples, "sou melhor que você, porque sou pentacampeão*". A frase arrogante de afirmação brasileira ecoou por vários lugares (principalmente quando argentinos cantavam "Brasil, decime que se siente"). Mas o que isso tem a ver com nacionalismo ou patriotismo? Nada.

Após a partida, a imprensa divulgou imagens de brasileiros queimando a bandeira nacional, um dos símbolos máximos do país. As bandeirinhas dos carros e das casas sumiram e algumas são achadas jogadas na rua. Significa que gostar do país onde você mora dura 30 dias ou 64 jogos, mas isso se o Brasil vencer, é claro.

Então o patriotismo e o nacionalismo só valem enquanto seu time estiver em campo na Copa do Mundo... E de futebol, assim ele é tratado no Brasil.

Por sorte, nossa sociedade está mudando desde a segunda metade do século XX. O sentimento nacionalista e de ódio aos outros países está morrendo (por mais que seja apenas no âmbito esportivo) e, segundo Stuart Hall, se transforma de tal maneira pela globalização:  "Isso está fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais".

Das sociedades antigas, sobraram apenas os estereótipos. Aliás, vocês repararam quantas propagandas estereotipadas nos tivemos? Por sinal, viram algum argentino cabeludo na seleção?

2 - Sociedade

Hall, em um de seus estudos, tentou explicar a mudança das sociedades dentro do nosso processo de globalização. Essa globalização possui um impacto grandioso sobre a identidade cultural, que é também um assunto do nacionalismo e das antes ditas "culturas puras". A afirmação da cultura pura servia apenas para dizer que uma cultura era superior a outra, uma bobagem tremenda.

Segundo Hall, as mudanças ocorridas em nosso tempo são maiores que as mudanças de antes, aceleradas em grande parte pela globalização. A sociedade alemã, por exemplo, sofreu dois impactos gigantes com duas guerras no século XX (causadas sim pelo nacionalismo, vide Guerra Franco-Prussiana que permitiu a unificação alemã), além da separação em dois de sua sociedade e a reunificação em 1989, já diante do acesso gigante aos meios informativos.

Isso alterou alemães e influenciou no modo com que eles trabalham com futebol também. Hall cita Anthony Giddens: "à medida em que áreas diferentes do globo são opostas em interconexão umas com as outras, ondas de transformação social atingem virtualmente toda a superfície da terra". Isso tem tudo a ver com futebol.

Da mesma maneira que o contato com outras culturas transforma a sociedade pela globalização e acesso à informação, o futebol e o esporte em si mudaram com a troca de experiências e intercâmbios culturais. Eis nossa globalização transformadora.

3 - Futebol

Inventado na Inglaterra, o futebol demorou um tanto para chegar aos quatro cantos do mundo. Cada lugar aprendeu a jogar de uma maneira, alguns com rigor tático, outros se utilizando do talento natural de seus jogadores.

O Brasil, por exemplo, é um grande celeiro de jogadores e como todos sabem, é uma das maiores escolas de futebol. Por muitos anos, o talento natural brasileiro bastou para vencer, hoje ele é apenas mais uma parte da fórmula de sucesso.

Fazendo uma rápida linha do tempo, vemos que a Alemanha que fez 7 a 1 no Brasil joga com talento natural, rigor tático, futebol total, tiki-taka e até táticas de basquete, como triangulações ofensivas.

Quando o Ajax de Johan Cruyff venceu de forma seguida a Copa dos Campeões da Europa no início da década de 1970, mal sabia que isso influenciaria até hoje o jogo. Em 74, a Holanda foi vice, mas Cruyff saiu de lá com um ideal na cabeça. Anos depois, foi técnico vitorioso no Barcelona, que tinha no meio de campo um tal Pep Guardiola.

Vários anos depois, Guardiola colocou em prática um futebol vistoso, ofensivo, com a participação de todos, passes curtos, rápidos, o tiki-taka que virou campeão com Espanha em 2010. O futebol total viveu na Catalunha até Guardiola se mudar para Munique, onde comanda o Bayern.

A aula de futebol que a Alemanha deu no Brasil envolve vários aspectos, desde formação de jogadores e organização da confederação, até a tática colocada dentro de campo. Os gols alemãs foram quase todos de passes curtos, triangulações, nada muito distante do que o Ajax fazia, do que o Barcelona fazia, do que o Bayern agora faz.

Essa é a globalização do futebol, com intercâmbio cultural, sem patriotismo, sem nacionalismo.

No Brasil, nossos representantes da confederação e alguns especialistas reafirmam que apenas o nosso talento basta, que os técnicos brasileiros são geniais, que nossos jogadores são melhores apenas por nascerem neste território... Bobagem pura.

Enquanto Simeone, Pekerman, Sampaoli, Loco Bielsa e outros argentinos se dão muito bem como treinadores, não vemos sucesso brasileiro além de Otto Glória em Portugal há muitos anos. Felipão mesmo fracassou no Chelsea e Luxemburgo no Real Madrid nem merecia uma citação, mas aqui vai ela.

Acho que chegou o momento em que o brasileiro deve pensar que ganhar cinco títulos não significou nada, apenas um número, e que o futuro é tenebroso se esse pensamento nacionalista, chamado de pacheco, perdure. Quem acha que não precisa aprender nada, quebra a cara.

4 - Copa do Mundo

Ainda seguindo a linha de Hall e citando as culturas híbridas dos estudos de Néstor Canclini, a globalização nos permite conhecer os costumes dos outros de maneiras muito simples. Na internet mesmo é possível viajar sem sair do lugar, saber o que povos diferentes pensam, sentem, comem, dançam e cultuam.

Nesse sentido, não vejo o menor problema de um cidadão torcer por outra equipe nacional, porque a seleção representa um país, um povo, uma bandeira que hoje todos podem conhecer. É a morte do estereótipo e das fronteiras.

A grande maioria dos brasileiros é descendente de outros povos que vieram para cá apostar na vitória, numa vida melhor. O Brasil é um dos maiores exemplos de culturas híbridas, por comer feijoada sábado e macarronada no domingo. Nosso nacionalismo é o mais inadequado de todos.

Como sujeitos globalizados, devemos pensar além de fronteiras físicas, impostas por sociedades antigas, algumas belicosas, até inimigas, mas que hoje são parceiras... O mundo está mudado.

Deixo aqui a entrevista de Paul Breitner aos canais ESPN. Talvez as palavras dele façam muito mais sentido agora.


*O Brasil ganhou a Copa cinco vezes, mas a França é a única "campeã de tudo". 
Um abraço e até a próxima!

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Final do NBB na Globo perde para SBT, mas atinge pico de 7 pontos de audiência

Créditos: Luiz Pires/LNB e Ricardo Ramos/LNB
A grande final do Novo Basquete Brasil, disputada na manhã do sábado, 31, rendeu à Globo a vice-liderança do horário na média de audiência, empatada com a Record e à frente da Band. Porém, a emissora líder de audiência no painel nacional, perdeu para o SBT, que garantiu a ponta com desenhos animados.

Com média de 4 pontos (um ponto equivale de 60 mil a 65 mil lares ou 185 mil pessoas segundo o Ibope), a Globo permaneceu junto com a Record e apenas a um ponto do SBT. A média é a mesma da partida entre Flamengo e Brasília, que abriu o NBB em novembro do ano passado, mas é bom destacar que a audiência foi aumentando aos poucos com o jogo indo para os momentos decisivos.

Nos confrontos diretos, o NBB empatou tecnicamente com o "Esporte Fantástico" da Record (4,3 da Globo x 4,2 da Record) e perdeu apenas para o Sábado Animado do SBT. A média da manhã das três emissoras girou em torno de 4 pontos.

A boa notícia ficou por conta do pico de audiência, que chegou aos 7 pontos nos instantes finais da partida, ocorrido próximo ao meio-dia, que coroou a excelente temporada do Flamengo, vencedor do estadual, do NBB e também da Liga das Américas.

Com a crescente perda de audiência da TV aberta para as TVs por assinatura e internet, os números do sábado acabam sendo bons e ruins ao mesmo tempo. Como assim? Explico. O NBB manteve a média de audiência do basquete nas manhãs de sábado e ficou, por alguns momentos, isolado na frente quando a partida estava chegando ao fim.

Entretanto, se comparamos a outros sábados, o NBB ainda fica devendo para a Superliga de Vôlei, que na final feminina, por exemplo, alcançou um pico de 9 pontos. A Liga Mundial, do mesmo esporte, marcou 5,5 de média no fim de semana anterior (24/05) e a Fórmula 1 anotou 5 pontos com o treino classificatório para o GP de Mônaco, no mesmo dia.

Cada vez mais, parece que o que não é futebol, não tem espaço na TV aberta. Claro que hoje em dia é impossível fazer o "Show do Esporte", famoso programa da TV Bandeirantes que colocava 10h de programação esportiva nos domingos, indo desde futebol e Fórmula Indy, até sinuca, passando por basquete e vôlei. Isso é irreal e hoje só funciona bem na TV fechada.

Certo que o vôlei é mais exibido que o basquete na Globo, o que também pode explicar a audiência menor da modalidade da bola laranja. O fato é que o Brasil precisa se libertar da monocultura, dos programas ditos esportivos que só comentam sobre futebol, porque massificar outras modalidades também dá audiência. Vem aí o Rio 2016.