sábado, 19 de abril de 2014

Perdemos Luciano do Valle, um exemplo contra a monocultura esportiva brasileira


Quem via suas últimas narrações de domingo ou quarta-feira na Band poderia até pensar que Luciano do Valle era apenas um simples narrador de futebol como tantos outros. Na verdade, atrás daquele microfone estava um dos maiores defensores dos esportes olímpicos, o Luciano do vôlei, do basquete, da Fórmula Indy, do boxe, de tantos outros e até da sinuca.

Como sabemos e vimos hoje em dia, a televisão e até mesmo o rádio, que antes apoiavam e transmitiam diversas modalidades esportivas, se renderam ao futebol, que dá muito mais faturamento e audiência, o que acaba aumentando a diferença entre o esporte bretão e as modalidades olímpicas, que sofrem um bocado no Brasil. Assim as muitas modalidades acabam marginalizadas com o argumento de que se não dá audiência, não pode ser transmitido...

Temos 11 canais esportivos entre fechados, abertos e parabólica e infelizmente poucos deles apostam em programações de esportes olímpicos, ou acabam preferido reprises de futebol para ocupar a grade. É muito futebol e quase nada para muitas modalidades. Em outras épocas, Luciano do Valle tinha 10 horas no domingo para todos os esportes na TV Bandeirantes, era o Show do Esporte, que como disse um amigo, formou o caráter esportivo de muita gente.


E Luciano do Valle foi um embaixador e voz destes esportes quando começou a narrar o basquete na TV Globo nos anos 70. Quando esteve na TV Record depois da Copa do Mundo de 1982, o narrador colocou mais de 90 mil torcedores do Maracanã para um jogo de vôlei entre Brasil e União Soviética. Foi dele a voz da Fórmula Indy no Brasil, quando Emerson Fittipaldi corria para vencer as 500 milhas de Indianápolis pela primeira vez até a última prova no solo sagrado de Indianápolis em 2013, coroando Tony Kanaan.


Luciano também trouxe a NBA ao Brasil e foi pioneiro na transmissão da NFL, que hoje faz um sucesso gigantesco na ESPN, além de emprestar a voz para narrações de fatos históricos, como a conquista do Mundial de Basquete Feminino em 1994. Não há como medir o que as cestas, cortadas ou bandeiras quadriculadas narradas por ele fizeram ao nosso esporte.


O Brasil não perde apenas um locutor, mas um grande combatente na luta contra a monocultura esportiva.

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