sábado, 8 de novembro de 2014

Campeão Mundial com o Flamengo, José Neto traça NBB forte

Crédito: Ricardo Ramos/LNB

Do interior de São Paulo a campeão de tudo no basquete. Desde que chegou ao Flamengo, José Neto só não venceu a Liga das Américas 2013. Já foi campeão estadual, do NBB duas vezes, da Liga das Américas 2014 e Intercontinental, levando o Flamengo a igualar o histórico time do Sírio, campeão em 1979.

Neto é de Itapetininga, mas andou por Sorocaba vendo muitos times (as cidades são separadas por apenas 70km), do Minercal de Hortência, ao time de Josuel nos anos 90. Já nesta temporada, teve a oportunidade de comandar o Flamengo em três amistosos nos Estados Unidos contra times da NBA: Phoenix Suns, Orlando Magic e Memphis Grizzlies.

Na última sexta-feira (7), já pela sétima edição do Novo Basquete Brasil, Neto esteve com o Flamengo em Sorocaba, quando a equipe do RJ venceu a Liga Sorocabana por 97 a 92, em uma partida apertada. Antes do jogo, o treinador recebeu uma placa do presidente da LSB, Rinaldo Rodrigues.

Após o jogo, este blogueiro conversou com Neto sobre as experiências desta temporada, que ainda está no começo. O resultado você lê abaixo:


- Neto, recentemente você também foi homenageado em sua cidade e agora recebe também uma placa da LSB. Como é para você esse reconhecimento regional e também dos outros times? 

Eu valorizo muito, talvez muito mais que os títulos, que talvez seja o motivo disso. Eu fico muito feliz, porque você ser um motivo de orgulho, de um valor, de um lugar que você gosta muito é uma coisa que me deixa muito feliz. É minha cidade, dali eu saí, me deu todas as oportunidades de vida e aqui na região eu aprendi a ver basquete em Sorocaba. Vi Hortência, depois o time do Atílio com o Josuel, então são coisas que me marcam. Fico feliz em poder retribuir o que eles me motivaram a ser como pessoa.


- O Flamengo, nesta temporada, já disputou três partidas nos Estados Unidos contra times da NBA e foi campeão mundial em mais dois jogos. Houve uma preparação diferente para a temporada? A NBA tem regras diferentes da FIBA, bola, linha de 3 pontos. O time se preparou bem?  

Para a NBA, na verdade, a gente não fez uma boa preparação, até porque nós tínhamos acabado de sair do mundial e já tivemos que jogar a NBA com tudo isso que você falou de diferente, as regras, bola, linha e isso no Brasil a gente não tinha. Fizemos isso lá nos Estados Unidos, foi uma coisa que teve de ser rápida, mas os jogadores são experientes, que se adaptam bem a situações e isso nos faz evoluir como time, grupo, como pessoas e nossa viagem aos EUA foi algo de muito valor.

E o mundial é uma coisa em que eu sempre sonhei, sempre me veio muito forte aquela imagem do Sírio campeão em 1979 com a torcida invadindo a quadra, muita euforia e aconteceu a mesma coisa comigo em quadra e isso não tem descrição, é um sentimento muito grande que a gente tem.


- Nós aqui no Brasil jogamos um basquete bem diferente de Europa e Estados Unidos. O que você destacaria de tudo o que você enfrentou nos amistosos diante dos três times da NBA? 

Eu sempre acreditei que para ser forte você precisa ser intenso a maior parte do tempo. E eles são fortes durante todo o tempo, e isso, o ritmo deles, foi uma coisa que me marcou demais. Tudo bem que na pré-temporada eles acabam jogando com mais de 15 atletas, tem time que estava com 19, então eles conseguem um ritmo muito forte mesmo. E todos que entram no jogo, sem importar se é o 18º jogador, eles são atletas que querem uma vaga no time, então eles confirmam esse conceito. Isso me marcou, jogar com muita intensidade ofensiva e defensiva durante a maior parte do tempo e isso eles fazem muito bem.


- Esse ano o Flamengo trouxe o Walter Herrmann, campeão olímpico em 2004. Fale um pouco sobre a contratação dele. 

É um cara super experiente, como você falou é campeão olímpico e nos dá muita coisa, acrescenta muito ao nosso time. Fico muito feliz de ter um jogador como ele no time, contribuindo muito ao coletivo.


- Desde que você chegou ao Flamengo, você só não venceu a Liga das Américas 2013, como é esse trabalho de continuidade?

Essa é uma particularidade que eu realmente não fiz nada, é o caráter do time. Se o time tem algo, realmente é caráter. Não se abate com as dificuldades, sempre trabalha por soluções para as coisas difíceis que acabam acontecendo.

No último NBB saímos nos playoffs sempre perdendo em casa e acabamos virando vencendo duas fora de casa, tanto em Bauru, quanto em Mogi. E não é fácil bater essas duas equipes fora de casa, são coisas que mostram o caráter do time. Realmente o Phil Jackson tem razão*, para ser vencedor o time precisa ter caráter e esse time tem.


- Para este NBB, o Flamengo perdeu o Shilton, mas vem com os jovens Gegê e Felício, que ajudam muito na rotação, e a contratação do Herrmann. Quais outros times você colocaria como favoritos para o campeonato e também na questão do elenco?

Se engana muito quem acha que o NBB é um campeonato de dois, três ou quatro times. É um campeonato com 16 times e todos possuem chances de ganhar. Sorocaba mostrou isso hoje, não tem grandes nomes, mas é um grande grupo, que sabe bem o propósito do que deve fazer para ganhar. Eles tentaram isso do começo ao fim, muito valor e do mérito que eles fazem e assim vai ser em todo lugar.

Temos vários times, que talvez não tenham grandes nomes, mas possuem um grupo. E isso nós também tentamos fazer no Flamengo, tentamos fazer além dos nomes - eles ajudam muito -, mas é preciso que grandes jogadores se tornem um grande grupo. Vai ser um campeonato duríssimo.


- O NBB desse ano começou no Paulistano com uma cara diferente, tivemos quadra padronizada, placas de publicidade com led, decoração no ginásio que ficou lotado. Você que está no campeonato de forma ininterrupta desde a quarta edição, vê nisso também uma evolução? E os atletas?  

Vejo a evolução muito clara, vejo todos setores evoluindo, como o dos jogadores, vemos cada vez mais atletas de alto nível. Um exemplo é nossa equipe, trouxemos agora (o Herrmann) um campeão olímpico, MVP da liga argentina. Não é fácil trazer um jogador desses. Acho que isso também mostra a evolução da competição. Mas claro que ainda devemos evoluir mais, setor administrativo, vemos essa padronização de piso, tabela, placar. Vemos as equipes tentando melhorar para que o campeonato fique cada vez mais atrativo.


- Com a parceria da LNB com a NBA, você espera ver um pouco do que viu nos EUA aqui no Brasil?  

Bom, primeiro eu espero que o contrato seja fechado e assim que aconteça, claro que espero. O exemplo da NBA é de uma liga que sabe o caminho do sucesso, talvez já estejamos no caminho, mas eles podem nos mostrar um caminho ainda melhor. Isso pode nos ensinar que o basquete não é só um jogo, é um evento.


*Nota: Phil Jackson cita, na página 111 de seu livro Onze Anéis - A Alma do Sucesso (Editora Rocco): "O técnico da UCLA, John Wooden, costumava dizer que "vencer requer talento e vencer de novo requer caráter".  

2 comentários:

  1. Excelente entrevista, Gui!

    Muito bem feitas as perguntas, gostei especialmente da parte com as diferenças entre o nosso basquete e o de fora.

    Abraços!
    Marcel

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